segunda-feira, 21 de junho de 2010

Veja o que minha paixão por café me fez achar....

Por Jaqueline Suzarte
As pessoas próximas a mim sabem que sou apaixonada por café. Um dia qualquer navegando pela internet encontrei este texto que para mim... É um verdadeiro primor!



Num salão de Paris
a linda moça de olhar gris,
toma café.
Moça feliz.

Mas a moça não sabe, por quem é,
que há um mar azul, antes da sua xícara de café,
e que há um navio longo antes do mar azul...
E que antes do navio longo há uma terra do Sul;
e que antes da terra um porto, em contínuo vaivém,
com guindastes roncando na boca do trem
e botando letreiros nas costas do mar...
e antes do porto um trem madrugador
sobe-desce da serra a gritar, sem parar,
nas carretilhas que zumbem de dor...
E antes do serra está o relógio da estação...
Tudo ofegante como um coração
que esta sempre chegando e palpitando assim.
E antes dessa estação se estende o cafezal.
E antes do cafezal está o homem, por fim,
que derrubou sozinho a floresta brutal.
O homem sujo de terra, o lavrador
que dorme rico, a plantação branco de flor,
e acorda pobre no outro dia... (não faz mal)
com a geada negra que queimou o cafezal.

A riqueza é uma noiva, que fazer?
que promete e que falta sem querer...
Chego a vestir-se assim, enfeitada de flor,
na noite branca, que e o seu véu nupcial,
mas vem o sol, queima-lhe o véu,
e a conduz loucamente para o céu
arrancando-a das mãos do lavrador.
Quedê o sertão daqui?
Lavrador derrubou.
Quedê o lavrador?
Está plantando café.
Quedê o café?
Moça bebeu.
Mas a moça, onde está?
Está em Paris.
Moça feliz.


Cassiano Ricardo. Martin Cererê. São Paulo, Nacional, 1936. p. 202-3

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