segunda-feira, 7 de maio de 2012

A Onda – Um jogo de poder e alienação

Por Jaqueline Suzarte


O filme é baseado na história real do professor Ron Jones ocorrida em 1967 e retratado na obra The Third Wave. O longa-metragem possui uma linguagem contemporânea, expõe questões atuais, sem perder a essência das discussões levantadas na obra original.
O drama de 107 minutos é de 2008. Dirigido por Dennis Gansel e com o roteiro de Todd Strasser e Peter Thorwarth, o filme mostra de forma marcante os efeitos causados pelo mau uso do poder, da política alienadora, de como a adolescência sem rumo pode causar transtornos e a importância do jornal como difusor de opinião, tendo como palco uma escola alemã.
Os veículos de comunicação de todo o mundo tem relatado abusos ocorridos nas escolas. Centros educacionais que eram para ser formadores de estudantes preparados para exercer a cidadania, mas que devido ao cotidiano escolar cheio de problemas, acabam tendo um rumo diferente do que era esperado. Em, A Onda, isto fica evidente.
Designado para lecionar sobre Autocracia em um projeto pedagógico da escola, o professor, Rainer Wenger, instiga seus alunos a passar a semana em que acontecem as aulas não apenas vendo as teorias do assunto, mas vivenciando o espírito de conjunto, rigidez e obediência imposta pelo fascismo. O que Wenger não esperava, era a direção que suas ideias e a maneira como estava conduzindo as aulas iria ter.
A ética profissional impõe certos cuidados que precisam ser respeitados. Ser um educador requer certo trato com os alunos, principalmente com os adolescentes que normalmente são contraditórios, cheios de expectativas, e que estão formando o caráter e as opiniões sobre o mundo. Ao se envaidecer pelos bons resultados iniciais obtidos pelo método utilizado nas primeiras aulas, o professor passa a não perceber a perda de controle dos alunos e do movimento criado pela sua turma, intitulado de “A Onda”.
O que era apenas uma experiência para ser vivida no âmbito escolar ganhou as ruas da cidade. O problema apresentado no filme não é apenas o descontrole de ter saído da instituição educacional, mas as práticas desordeiras causadas pelos abusos dos que deveriam combater as atrocidades, a alienação e não usá-las como ferramenta de manipulação.
O longa evidencia algo muito comum nas escolas, grupos e subgrupos formados pelos alunos , onde há a hierarquia de liderança devido a popularidade, o dinheiro ou por ser mais forte fisicamente, as chamadas “panelinhas”. Quando o movimento criado por Wenger é iniciado, o intuito é justamente de combater a rejeição, os grupos fechados, mas resulta na imposição de algo que se torna emblemático, a ditadura imposta pelo pensamento único, a de quem não aderir ao movimento, não pode estar inserido nas atividades escolares e termina repudiado no círculo de amizade.
Pensar em fazer o diferencial, mas não analisar as consequências que suas atitudes podem causar, demonstra o quanto ideias distorcidas implicam em situações às vezes terríveis. Quando o professor obteve o poder, envaideceu-se e seu orgulho o cegou, fazendo com que os alunos se sentissem a vontade para cometer os abusos que quisessem. Andassem não como amigos, mas como bando, com arma, cometendo infrações, determinados a uma mobilização massificadora em prol de desejos particulares e não do bem comum.
Importante salientar que por estes aspectos, o respeito ao próximo começa a não existir, pois passa a ser imposta a opinião única, a ausência de identidades e a individualidade.
Fator relevante é o fato de a mídia escolar servir como divulgadora de informação e opinião contrárias ao movimento baseado em reflexão de alunos de dentro da própria instituição. Escolas que promovem discussão através de um veículo de comunicação demonstram o interesse de formar estudantes como pessoas críticas. O jornal transforma-se em ferramenta de combate às perversidades que estão acontecendo e ajuda a propagar uma visão diferente da que estava sendo pregada.
A Onda é um excelente filme por levantar questões importantes que envolvem o âmbito escolar, mas que se refletem na própria sociedade. A sua originalidade está em demonstrar que atitudes movidas por ideias distorcidas podem até hoje, causar grandes transtornos sociais que julga-se não terem mais espaço, mas são veladas e precisam ser combatidas. Além de mostrar o papel fundamental da mídia para propagar discussões necessárias que informam e conduzem as pessoas a refletir sobre seu meio. 


Ficha técnica:
A Onda (Die Welle, 2008)
Direção: Dennis Gansel
Roteiro: Todd Strasser, Peter Thorwarth
            Elenco original: Jürgen Vogel (Rainer Wenger), Jennifer Ulrich (Karo)
Gênero: Drama
Origem: Alemanha
Duração: 107 min
Tipo: Longa-metragem  

Nenhum comentário:

Postar um comentário