A vida moderna é mesmo acelerada: a percepção e o trânsito tem sido algo difícil

Por Jaqueline Suzarte 

Fotos: Valdir Mascarenhas Filho

A velocidade empregada pela vida moderna, nos deixa muitas vezes, sem enxergar o mundo a nossa volta. Um vai e vem constante, nervoso e agressivo toma conta de nós. Carros, motos e caminhões soltam fumaças, arrancam os motores, buzinam, dão seta e fazem ultrapassagem com toda velocidade pelas pistas. Enquanto isto, pedestres estão amontoados no ponto de ônibus, atravessam as ruas, cruzam avenidas, andam na passarela, sem que o transito tenha um minuto de calma.

Por cima do asfalto, máquinas e seres humanos disputam espaço com muita naturalidade. Assim é o transito, um ambiente onde domina aquele que consegue ser mais forte, normalmente, as máquinas.

Parece estranho quando comentado desta forma, mas tanta coisa importante passa na frente dos nossos olhos sem que seja percebida. Estamos sempre com tanta pressa e preocupados, que acabamos limitados ao nosso mundo. As pessoas passam a nossa frente, do lado e nem notamos.

Quantos passam despercebidos aos nossos olhos? Quase nunca vemos o outro. Isto nos torna insensível, algumas vezes frio e sem valorizar as condições de vida humana.

Buscamos a modernidade, a tecnologia, a interatividade e nem compreendemos os efeitos e sensações que esta busca nos causa. É normal preferir a internet, o jogo e o torpedo do celular, do que prestar atenção no que está acontecendo pertinho de nós. Não interagimos com quem está ao nosso lado, mas sim, com quem está conectado na rede virtual. Haja luz hoje em dia para nos chamar atenção, para nos entreter e mostrar a vida ao nosso redor.

Fiquei pensando nisto quando estive em Salvador esses dias. É uma cidade que gosto, me faz bem sua urbanidade e possibilidades de passeio. Quando estou na capital, aproveito para fazer algumas leituras. Sempre gostei de observar as pessoas, as casas e as ruas. Imaginar como é a vida fora do meu ambiente.

Estava de carro indo ao médico. Chovia, nem por isso o transito estava calmo. Tenho impressão de que piora. Nada me chamou mais atenção do que um ônibus lotado. Pessoas amontoadas, espremidas e com as mãos levantadas para segurar a sacola, ao mesmo tempo em que estavam com a outra mão na barra de segurança do teto para não caírem. Uma visão angustiante! Pensar que é tão comum se deparar com situações como esta, que todos se acostumam. Oras... Transporte público de qualidade é fundamental, mas isso só é falado no período das eleições. É triste ver como algo essencial não tem solução imediata.

A impressão é que o espaço no ônibus é todo ocupado, que não passa vento entre as pessoas e que não dá para se mexer. Definitivamente, a lata de sardinha perde para o ônibus, não é tão cheia quanto o veículo. O balanço da condução é tão grande, parece até que vai tombar, que não subirá a ladeira e que passará por cima dos carros pequenos. Nós, seres humanos merecemos condições melhores de vida. Uma pessoa sai para trabalhar cedo, tem um transporte ruim, ganha pouco e ainda querem que seja produtivo. Quando chega ao trabalho já está cansado e depois ainda enfrenta as mesmas condições ou até piores na volta para casa.

Como é difícil a vida na sociedade, onde poucos têm muito e muitos têm pouco. A gente precisa ler mais, agir mais, entender os signos, as representações e trabalhar em cima disso. Não deve ser admissível a perpetuação de problemas desta ordem ou até piores.

O país está crescendo e na mesma medida que há benefícios, também aparecem os danos. No entanto, o que é ruim nunca deve se transpor sobre o que é bom. Levantemos nossas cabeças e vamos à luta. A consciência de que podemos agir deve fazer parte todos os dias de nossa vida. Não somos impotentes, somos os responsáveis por uma vida melhor.

Gosto do trânsito. Amo dirigir (é muito bom ouvir música tocando dentro do carro). Gosto de vias largas, do vai e vem dos carros e das pessoas, mas é estressante saber que tudo poderia ser melhor, se houvesse um pouco mais de iniciativa para melhorar o tráfego. O ser humano precisa ter mais direitos, seja no trânsito ou em qualquer outro lugar.