quinta-feira, 4 de abril de 2013

Dança do ventre invade os palcos do Brasil



Por Jaqueline Suzarte
Fotos: Rodrigo Cazeta

Vibrante, sensual e a prova do quanto à arte é reflexo de uma cultura, esta é a dança do ventre, a expressão artística árabe de raízes africanas, que se destaca por sua singularidade cultural. A dança é uma manifestação artística respeitada por representar o folclore, a crença e as tradições culturais de um povo. Revela os aspectos mais profundos do corpo humano através de suas nuances, flexibilidade e expressões, que vai além de corpo, pois utiliza vestes e outros acessórios para se enriquecer.

De origem egípcia, a dança do ventre não tem a sua forma original há muito tempo, mas atravessou séculos sem perder sua essência. Conhecida por sua sensualidade e erotismo, não perdeu seus atributos de sedução, mas vem ganhando espaço por sua tradição e artisticidade. As escolas de dança têm investido neste estilo, resgatando o aspecto cultural e promovendo releituras, algumas vezes, com particularidades de outros ritmos.
Até chegar aos palcos e se transformar em um espetáculo, passou nos seus primórdios, por haréns, palácios e templos. Por cada lugar em que foi recebida, teve um interesse diferente e hoje, nos teatros, é o símbolo da feminilidade e da união de várias culturas.
Mesmo sendo de berço africano, possui traço árabe e influência cultural de vários lugares. É uma dança milenar, datada antes de Cristo, com ascendências no Oriente Médio e na Ásia Meridional. Por vezes foi reconhecida por seu lado místico, sendo atribuída a rituais de fertilidade à deusa Ísis.
A dança do ventre vem se modernizando, sem perder a sua particularidade. É uma dança sinuosa, cheia de efeitos, produzidos pela movimentação do corpo ou mesmo por seus adereços. Promove o ar de mistério produzido pelos véus, ao mesmo tempo em que há a sensualidade das vestes, revelando o corpo.
Seus acessórios, pulseiras e lantejoulas trazem a alegria dos sons, dando um ritmo mais frenético à dança. É um jogo de sedução, que mostra a preferência dos seus admiradores e a alegria povo que a lançou para o mundo. 
Os países africanos possuem uma arte diferenciada, mais ritmada e festiva, ao som das percussões. Isto é algo que permanece vivo na dança do ventre. Por vezes, ela não foi reconhecida como egípcia, por ter traços marcantes da cultura árabe, já que seu país de origem é árabe, mesmo assim, fica evidente sua marca e essência africana quando a música é entoada.
A percussão é um instrumento utilizado nas músicas oriundas da África. É bastante comum seu uso no Brasil, nas diversas canções aqui produzidas e que não se restringem apenas às que têm ligação direta com o continente africano. É utilizado, também na marcação das danças afros.
As coreografias da dança do ventre são montadas principalmente ao som da percussão, fundamental na composição da dança. O uso do instrumento árabe “derbake” dá a marcação e a batida da coreografia. Estabelece uma ligação com o samba, através do “belly samba”, um mix de dança do ventre com o samba brasileiro. 
Para professora de dança do ventre Naiara Moura, do espaço Ághata, em Cachoeira, e do Delineare Deli, em Feira de Santana, “existe uma ligação entre as danças afro-brasileiras contemporâneas e a do ventre através da marcação com os instrumentos de percussão. A música é um elo que vem desde a origem até a modernidade”.
A dança do ventre ganha novas ferramentas rítmicas nas apresentações dos países ocidentais, ganhando um caráter mais de espetáculo. Mostra com isto, a adequação e renovação pelo qual passa, justificando os novos adeptos. Moura afirma que hoje é possível fazer o “belly fussion” e acrescentar movimentos, giros, saltos e traços de outras danças, como tango, zouk, jazz e até mesmo ballet clássico.

Como bailaria, a professora diz preferir mais pelo clássico, apesar de usar em suas coreografias detalhes do jazz moderno. Acrescenta que, nesse aspecto da fusão, a dança tribal é, hoje, extremamente responsável por essas possibilidades, uma vez que traz intensamente essa releitura da dança do ventre, englobando outras práticas artísticas e ampliando o leque de opções.

Por vezes, a dança do ventre foi reconhecida apenas por seu caráter sensual, mas sua riqueza cultural e releituras mostram o quanto é uma expressão artística que vai além do erotismo. Faz grande sucesso nos palcos do Brasil, chamando a atenção de homens e mulheres para a sua prática.

Normalmente as pessoas entendem como algo apenas feminino, mas muitos homens são adeptos desta dança. Em 2001, quando foi um dos temas centrais da novela O Clone da rede Globo, se propagou pelas escolas de dança do país. Quem gosta da cultura africana, árabe e mesmo a indiana, procura como uma maneira de vivenciar a arte desses lugares. É uma forma de aproximar das culturas e desenvolver o lado artístico, a performance corporal e para alguns, trabalhar a questão terapêutica.
A dança é um movimento artístico muito difundido no Brasil. Independente da região do país, sempre houve um apelo muito grande para iniciativas governamentais e culturais nessa área. Isto possibilitou que a dança do ventre encontrasse um lugar cativo por aqui e ampliasse suas possibilidades, através das releituras com particularidades da cultura da brasileira.

Um comentário: